domingo, 28 de junho de 2009

Utilização Inovadora das Tecnologias na Educação - Da Educação à Gestão do Conhecimento


Terminada a última guerra mundial, foi encontrada, num campo de concentração nazista, a seguinte mensagem dirigida aos professores:
"Prezado Professor, Sou sobrevivente de um campo de concentração. Meus olhos viram o que nenhum homem deveria ver. Câmaras de gás construídas por engenheiros formados. Crianças envenenadas por médicos diplomados. Recém-nascidos mortos por enfermeiras treinadas. Mulheres e bebês fuzilados e queimados por graduados de colégios e universidades. Assim, tenho minhas suspeitas sobre a Educação. Meu pedido é: ajude seus alunos a tornarem-se humanos. Seus esforços nunca deverão produzir monstros treinados ou psicopatas hábeis. Ler, escrever e aritmética só são importantes para fazer nossas crianças mais humanas."
As transformações que hoje varrem o planeta vão evidentemente muito além de uma simples mudança de tecnologias de comunicação e informação. No entanto, as TIC, como hoje são chamadas, desempenham um papel central. E, na medida em que a educação não é uma área em si, mas um processo permanente de construção de pontes entre o mundo da escola e o universo que nos cerca, a nossa visão tem de incluir essas transformações. Não é apenas a técnica de ensino que muda, incorporando uma nova tecnologia. É a própria concepção do ensino que tem de repensar os seus caminhos.
Tradicionalmente, a educação seria um instrumento destinado a adequar o futuro profissional ao mundo do trabalho, disciplinando-o e municiando-o, de certa maneira, com conhecimentos técnicos, para que possa "vencer na vida", inserindo-se de forma vantajosa no mundo como existe. Essa inserção vantajosa, por sua vez, asseguraria reconhecimento e remuneração, ou seja, "sucesso".
Esse paradigma, amplamente dominante, gerou outra visão, contestadora, que tenta assegurar à educação uma autonomia que lhe permita centrar-se nos valores humanos, na formação do cidadão, na visão crítica e criativa. Virgem de relações com o mundo econômico, de certa forma, esta educação estaria livre dos moldes que este lhe quer impor.
Sem os instrumentos técnicos para ser competente na linha profissionalizante, e frágil demais para ser transformadora, a educação realmente existente termina por constituir um universo relativamente ilhado em relação aos processos de transformação econômica e social.
O mundo que hoje surge constitui, ao mesmo tempo, um desafio ao mundo da educação e uma oportunidade. É um desafio, porque o universo de conhecimentos está sendo revolucionado tão profundamente, que ninguém vai sequer perguntar à educação se ela quer se atualizar. A mudança é hoje uma questão de sobrevivência e a contestação não virá de "autoridades", e sim do crescente e insustentável "saco cheio" dos alunos, que diariamente comparam os excelentes filmes e reportagens científicas que surgem na televisão e nos jornais, com as mofadas apostilas e repetitivas lições da escola.
Mas surge também a oportunidade, à medida que o conhecimento, matéria-prima da educação, está se tornando o recurso estratégico do desenvolvimento moderno. O conhecimento científico, é preciso dizê-lo, nunca esteve no centro dos processos de transformação social. Desempenhava um papel folclórico na Grécia antiga, mais preocupada com as guerras, e mobilizou minorias ínfimas em termos sociais nas grandes civilizações, seja da China, de Roma ou do mundo árabe.
Frente às transformações tecnológicas que varrem o planeta, o mundo da educação permanece como que anestesiado, cortado de boa parte do processo de pesquisa e desenvolvimento, hoje essencialmente concentrado nas empresas transnacionais, e privado de uma visão mais ampla do desafio que tem de enfrentar. A realidade é que, pela primeira vez, a educação se defronta com a possibilidade de influir de forma determinante sobre o nosso desenvolvimento.
Junto com os fins, surgiram os meios. Ao mesmo tempo que a educação se torna um instrumento estratégico da reprodução social e de promoção das populações, surgem as tecnologias que permitem dar um grande salto nas formas, organização e conteúdo da educação. Informática, multimídia, telecomunicações, bancos de dados, vídeos e tantos outros elementos se generalizam rapidamente. A televisão, hoje um agente importante de formação, pode ser encontrada nos domicílios mais humildes. Os custos desses instrumentos estão baixando vertiginosamente.
Partindo das tendências constatadas em diversos países, vislumbramos um conceito de educação que se abre rapidamente para um enfoque mais amplo: com efeito, já não basta hoje trabalhar com propostas de modernização da educação. Trata-se de repensar a dinâmica do conhecimento no seu sentido mais amplo e as novas funções do educador como mediador desse processo.
As resistências à mudança são fortes. De forma geral, como as novas tecnologias surgem normalmente através dos países ricos e, em seguida, através dos segmentos ricos da nossa sociedade, temos uma tendência natural a identificá-las com interesses dos grupos econômicos dominantes. E a verdade é que servem inicialmente a esses interesses. No entanto, uma atitude defensiva frente às novas tecnologias pode terminar por nos relegar a posições em que os segmentos mais retrógrados da sociedade se apresentam como arautos da modernidade.
Não se trata de inundar as escolas de computadores, como que caídos de pára-quedas. Numerosos estudos feitos em empresas mostram como a simples informatização leva apenas a que as mesmas bobagens sejam feitas em volume maior, e com maior rapidez. Trata-se de organizar a assimilação produtiva de um conjunto de instrumentos poderosos, que só poderão funcionar efetivamente ao promovermos a mudança cultural, no sentido mais amplo, correspondente.
Essa mudança cultural, civilizatória, é planetária, ou seja, a educação tem de aprender a utilizar as novas tecnologias para transformar a educação, na mesma proporção em que estas tecnologias estão transformando o mundo que nos cerca. A transformação é de forma e de conteúdo.
Fonte - Vanzolini

http://saladeaula.terapad.com/index.cfm?fa=contentNews.news&directoryId=9411

Nenhum comentário:

Postar um comentário